As notícias científicas que provavelmente chegarão às manchetes em 2021, segundo a Science

Enquanto médicos e profissionais de saúde continuam a lutar contra a pandemia mortal que assolou o mundo neste último ano, os pesquisadores de todas as disciplinas buscam atingir grandes marcos ou lançar novos projetos, apesar dos desafios trazidos pela Covid-19.

Em meio a essa corrida por vacinas, tratamentos e demais pesquisas e efeitos do coronavírus, os cientistas ainda têm que enfrentar outra crise global: as mudanças climáticas, prioridade máxima em vários países do mundo atualmente.

Segundo a equipe de notícias da revista científica Science, as manchetes de 2021 serão ocupadas por destaques relacionados à medicina, mas também ganharão espaço assuntos como a proteção da biodiversidade em alto mar e até as descobertas de como os humanos antigos interagiam.

Veja então quais são os principais focos de notícias para este ano, de acordo com a Science:

SAÚDE PÚBLICA

OMS investiga a origem do coronavírus

O lançamento de campanhas de vacinação em muitos países aumentou as esperanças de que a pandemia de Covid-19 chegue ao final. Mas como exatamente ela começou permanece obscuro, e uma equipe internacional de cientistas da Organização Mundial da Saúde viajará à China várias vezes este ano como parte de uma investigação sobre as origens do coronavírus pandêmico – uma missão politicamente sensível.

A equipe da OMS espera descobrir os parentes mais próximos do vírus em morcegos, onde e como ele saltou para os humanos ou se outra espécie agiu como um hospedeiro intermediário. Além disso, o mais importante será identificar maneiras de prevenir o surgimento de outros vírus pandêmicos.

DOENÇAS INFECCIOSAS

Medicamentos sob medida para Covid-19

Para complementar a vacinação em massa contra  Covid-19, neste ano as empresas farmacêuticas estão se dedicando ao desenvolvimento de medicamentos personalizados que bloqueiem o coronavírus pandêmico e tratem os sintomas da doença.

Mesmo que muitas pessoas recebam uma das novas vacinas altamente eficazes aprovadas pelos órgãos reguladores, o vírus ainda permanecerá endêmico. Em 2020, apenas o remdesivir antiviral e alguns medicamentos originalmente concebidos para tratar outras doenças mostraram benefícios ainda limitados contra a Covid-19.

Para identificar novos medicamentos, os pesquisadores implantaram inteligência artificial e supercomputadores, além de mais de 590 medicamentos experimentais que estão em desenvolvimento, de acordo com um importante rastreador da indústria farmacêutica.

Por exemplo, os pesquisadores têm grandes esperanças de compostos que interrompam a reprodução do vírus pandêmico, inibindo uma de suas duas proteases. Os inibidores de protease e outros compostos parecem promissores em estudos com células e animais. Mas os estudos com voluntários humanos estão apenas começando e podem levar anos para serem aprovados nas avaliações de segurança e eficácia.

BIOMEDICINA

Medicamento contra o câncer

Por mais de 3 décadas, os cientistas sonharam em diminuir os tumores desligando uma proteína que nos seres humanos é codificada pelo gene KRAS, cujos sinais de crescimento impulsionam muitos tipos de câncer. A KRAS era considerada impermeável às drogas, em parte porque não permitia que os inibidores pudessem atingi-la. Mas várias biofarmacêuticas já desenvolveram compostos que se encaixam em uma ranhura de algumas proteínas KRAS mutantes e restringem seus sinais. Os medicamentos têm mostrado resultados promissores, primeiro em roedores e depois em pacientes com câncer.

Em dezembro de 2020, a bio americana Amgen solicitou à FDA (Food and Drug Administration) uma revisão de seu medicamento KRAS, o sotorasibe, preparando o terreno para a aprovação neste ano do primeiro membro dessa nova classe de medicamentos. A droga poderia ser licenciada para uso em certos pacientes com câncer de pulmão. Outra empresa também deve submeter seu medicamento KRAS para aprovação, ainda este ano.

NUTRIÇÃO

Saúde intestinal para crianças desnutridas

A ajuda pode chegar este ano para milhões de crianças desnutridas que permanecem doentes e não se recuperam totalmente, mesmo depois de receberem alimentação e tratamentos adequados. Prevê-se que as interrupções relacionadas à pandemia e a perda de empregos façam com que o número dessas crianças cresça vertiginosamente.

Um problema para crianças desnutridas é a perturbação do microbioma intestinal, o que leva a um sistema digestivo imaturo e ineficiente que impede o crescimento. Para reparar os microbiomas, os especialistas em saúde aguardam os resultados de um estudo em Bangladesh que avaliou um suplemento nutricional de baixo custo. Trata-se de uma mistura de ingredientes comuns, como grão de bico, banana e farinhas de soja e amendoim. Em 2019, esta equipe relatou que em experimentos em ratos e porcos, seguidos por um estudo piloto de um mês com 60 crianças, o suplemento levou à reparação do intestino, conforme indicado por alterações nos marcadores sanguíneos.

Como o estudo não durou tempo suficiente para testar os efeitos sobre o crescimento, os pesquisadores compararam a intervenção com um suplemento existente em um estudo de mais de três meses com crianças desnutridas.

AQUECIMENTO GLOBAL

Mudanças climáticas

Quase oito anos se passaram desde o quinto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, o famoso corpo de cientistas voluntários do clima que registra, desde 1990, o aquecimento do planeta provocado pela humanidade.

A sexta edição, elaborada por mais de 700 cientistas, foi atrasada pela pandemia e sairá em seções ainda neste ano, seguindo até 2022. Espera-se que o novo relatório aprimore ainda mais a imagem do impacto humano no clima.

Suas descobertas serão apoiadas por uma nova geração de modelos e cenários climáticos, alimentados por indicadores de mudança global inabalável: dados mostrarão o aumento acelerado do nível do mar, o derretimento das geleiras nos polos, as ondas de calor extremo, a seca e os incêndios.

Em novembro de 2021 vários países do mundo se reunirão em Glasgow, na Escócia, para a Cúpula do Clima da ONU, onde se espera dos participantes um aumento nas ambições de seus prometidos cortes nos gases do efeito estufa, e que cheguem a um acordo sobre um conjunto completo de regras para implementar o Acordo de Paris. Entre os presentes, os holofotes devem focar nos Estados Unidos, com o presidente eleito, Joe Biden, que voltou a aderir ao pacto.

ASTRONOMIA

Telescópio Webb próximo ao lançamento

A longa espera acabará em breve: o observatório carro-chefe da NASA, o Telescópio Espacial James Webb, ou JWST, está definido para finalmente subir aos céus em 31 de outubro de 2021. O JWST é o sucessor do Telescópio Espacial Hubble, com um espelho de 6,5 metros de largura, que supera em seis vezes o poder de coleta de luz do seu antecessor.

O JWST será sensível o suficiente para examinar a atmosfera de exoplanetas próximos em busca de sinais de vida e reunir a luz das primeiras estrelas e galáxias do universo. A espaçonave de US $ 10 bilhões, que será lançada anos mais tarde do que o planejado originalmente, passou recentemente pelos testes finais. No meio do ano, o JWST será embalado e enviado para a Guiana Francesa, onde será carregado pelo foguete europeu Ariane 5, rumo ao espaço profundo.

MEIO AMBIENTE

Áreas Marinas Protegidas (AMP) em alto mar

Poucas normas protegem a biodiversidade nos dois terços do oceano que se encontram fora das águas soberanas das nações. Este ano, as Nações Unidas devem finalizar o primeiro tratado especificamente destinado a mudar isso. Espera-se que o pacto forneça uma forma de designar Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) em alto mar.

O texto preliminar também estabelece padrões mínimos para avaliações de impacto ambiental, os quais as nações seriam obrigadas a realizar antes de iniciar atividades comerciais que possam prejudicar a vida marinha. Um novo corpo científico e técnico internacional, semelhante ao que administra a vida marinha ao redor da Antártica, revisará as propostas de AMP. O esboço do tratado também prevê um sistema para gerenciar sequências genéticas retiradas de organismos marinhos que vivem em alto mar.

ARQUEOLOGIA

Novas pistas para civilizações antigas

Espere para ver estudos de povos antigos seguirem novos caminhos este ano, à medida que os pesquisadores combinam análises de DNA de civilizações passadas com outras pistas moleculares e microbianas para examinar os laços sociais e as migrações.

Os cientistas irão mesclar evidências de DNA com dados de proteínas e isótopos, bem como microfósseis e patógenos de ossos, placa dentária e fezes fossilizadas. Estes estudos poderiam identificar a pátria dos filisteus bíblicos e esclarecer as identidades dos primeiros anglo-saxões e gregos na Europa, bem como das múmias na China e no Egito.

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