Assembleia Legislativa debate construção de centro para pesquisa e capacitação em hidrogênio renovável no Paraná
Formar profissionais para atuarem no setor de hidrogênio renovável no Paraná, políticas de inovação e a necessidade de regulamentar a Política Estadual de Hidrogênio Renovável, aprovada há dois anos pela Assembleia Legislativa, foram discussões centrais na Reunião da Frente Parlamentar do Hidrogênio Renovável realizada na manhã desta terça-feira (3), no Auditório Legislativo. O evento foi proposto pela deputada Maria Victoria (PP), 2ª Secretária da Alep e coordenadora do colegiado, e reuniu pesquisador e o poder público.
O Paraná é um dos estados brasileiros com maior potencial de produção de hidrogênio renovável devido à alta disponibilidade de biogás, produzida a partir da biomassa – matéria orgânica como lenha, resíduos, excrementos, entre outros, destaca o governo do Estado. De baixa emissão de carbono, o hidrogênio renovável pode ser utilizado como fonte energética (combustível) e na produção de fertilizantes agrícolas.
Para aprimorar a formação de profissionais e o setor, Maria Victoria anunciou na reunião que está em tratativas, conduzidas em parceria com o deputado Alexandre Curi (PSD), presidente da Alep, e o governo do Paraná, que visam investir R$ 15 milhões na construção de um centro de Pesquisa e Inovação em Hidrogênio Renovável – projeto idealizado por entidades públicas e privadas. Uma reunião foi realizada entre representantes do Legislativo e Executivo há duas semanas para avançar no tema. O montante seria oriundo do orçamento dos dois poderes.
“O Paraná saiu na frente de todos os estados do Brasil no que tange à legislação sobre o tema. E tem grande potencial de utilizar não só o hidrogênio verde, mas também biometano e biogás. Isso nos torna uma potência na produção de recursos naturais para a produção de hidrogênio renovável. Isso vai gerar muito emprego, renda e desenvolvimento econômico aos paranaenses”, destacou a parlamentar.
O professor Helton José Alves, docente do curso de graduação em Engenharia de Energia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), abriu a reunião apresentando uma proposta para construir o Centro de Pesquisa e Inovação em Hidrogênio Renovável no Paraná. Elaborada entre 2021 e 2023, o projeto foi encaminhado para a Fundação Araucária e está pronta para ser executado, segundo ele. A iniciativa prevê a cooperação de oito laboratórios, que se dedicam em temas como inovação em amônia, fertilizantes sustentáveis, combustíveis do futuro, energia verde, entre outros
Conforme Alves, ela supre uma carência: há hoje iniciativas do tipo em 16 estados no Brasil, mas nenhuma delas está no Paraná. “O Estado pode ter o primeiro dedicado ao hidrogênio renovável. Não temos ainda um centro de pesquisa que trate do aproveitamento da biomassa para a produção de uma diversidade de produtos”, ressaltou o pesquisador, que também é diretor técnico-científico da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2).
A ausência contrasta com o potencial do estado na área, frisa Alves. Estudo publicado pela CIBiogás coloca o Paraná como o estado com maior número de plantas que produzem biogás no Brasil, com taxas de crescimento nos últimos dois anos de 30% e 20%. “Temos grande riqueza no Paraná que é a biomassa. Dedicamos esforços para destiná-la como fonte de energia renovável. Portanto precisamos articular com a indústria e facilitar incentivos para que ela possa se estabelecer no Paraná”, ressaltou.
Apesar do potencial, é grande a carência de profissionais no setor. Alves apresentou um raio-x referente à necessidade de trabalhadores qualificados: a carência atinge áreas como transporte e distribuição de hidrogênio, armazenamento, instalação de equipamentos, e mesmo setores como o direito e jornalismo – nos quais é alto o desconhecimento sobre a legislação atinente e a própria matriz energética. “A demanda é grande e precisamos dar atenção a isso”, frisou.
Luiz Márcio Spinosa, diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fundação Araucária, instituição dedicada ao fomente de pesquisas no Paraná, detalhou como a construção do Centro de Pesquisa e Inovação em Hidrogênio Renovável pode vir a integrar a Plataforma Paraná de Transição Energética, que reunirá projetos dedicados a diferentes setores de energia renovável, como uso de combustíveis sintéticos, promoção do biogás, entre outros.
O gestor destacou que alguns projetos já contam com recursos empenhados para execução, enquanto outros ainda dependem de orçamento. Cerca de R$ 12 milhões já foram investidos. A plataforma paranaense deverá ter sede na UFPR e no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), empresa pública vinculada à secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná. Conforme o diretor, o potencial de inovação no Paraná “se distingue do resto do país porque o sistema é interiorizado. Mais das metades das cidades do Paraná tem presença de universidade ou sistemas de ciência e tecnologia”.
Gustavo Possetti, gerente de pesquisas e inovação da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), tratou do potencial do hidrogênio renovável no Paraná e ressaltou a preocupação de interligar academia, indústria e políticas públicas para fazer essas “hélices rodar num mesmo sentido”. “O Paraná tem o maior parque de reatores anaeróbios do mundo tratando esgoto e gerando biogás. Portanto, talvez tenhamos o maior parque capaz de transformar esse biogás em hidrogênio renovável”, destacou.
Ele avalia que o produto pode ser ofertado para mais de 300 potenciais clientes no Paraná que já utilizam hidrogênio na cadeia produtiva, conforme dados elencados por um estudo realizado pela Companhia. “Isso nos mostra um potencial e nos traz a responsabilidade de entender que não temos uma cadeia de suprimentos adequada”, ponderou.
Regulamentação
A reunião também foi uma oportunidade para debater a regulamentação pelo Poder Executivo da Política Estadual do Hidrogênio Renovável, projeto proposto pelos deputados Maria Victoria, Alexandre Curi (PSD) e Luis Corti (PSB) e aprovado há cerca de dois anos. Alves destacou o Paraná foi pioneiro no Brasil, antecipando até mesmo a legislação da União sobre o tema. E frisou que a regulamentação é crucial “para que a indústria possa se posicionar e entender quais são as regras que serão estabelecidas e os incentivos”, destacou. “Somente dessa forma o Plano será praticado”
Thiago Olinda Paraguassu Santana, coordenador de Gás, Biocombustíveis e Hidrogênio na Superintendência-Geral de Gestão Energética (SUPEN) do governo do Paraná, destacou avanços do Executivo, como a criação da pasta dedicada ao tema. Ele também destacou projetos como o Plano Estadual de Hidrogênio Renovável, que visa estimular oferta, demanda, pesquisa e investimento, e os planos Estadual de Segurança Energética e de Descarbonização da Economia Paranaense – ambos em fase de elaboração. Paraguassu também manifestou apoio à construção do Centro de Inovação.
Também compuseram a mesa Brandon Harrison Guerber Telles, engenheiro ambiental representando a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest); Edward Borgo, presidente do Conselho Regional de Química (CRQ); Francisco Reinhardt, servidor da Receita Federal do Brasil; João Silva dos Santos, Associação de Profissionais da Copel (APC); Felipe Braga Cortes, representando a Superintendência Geral de Desenvolvimento Econômico e Social; Ricardo Vidinich, coordenador da Câmara Técnica de Energia do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP); e Carlos Garcia Nascimento, servidor da Assembleia Legislativa do Paraná.